Beda #4: Resenha Todo Dia - David Levithan

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Vou ser bem sincera, eu não estava nem um pouco interessada em ler esse livro. Eu não o teria lido se não fosse por ser a leitura do mês no Clube do Livro em que uma amiga minha participa. 

 

   Ela me chamou para fazer parte e esse foi o primeiro livro que li no Clube. Apesar da premissa interessante, eu tinha um pouco de resistência quanto ao autor, já que não tinha escutado coisas muito boas dos outros livros dele.
   A história é sobre uma pessoa – chamada A – que vive uma vida bem diferente. A não tem um corpo próprio e por isso vai migrando de corpo em corpo, “possuindo” cada um por um dia. Meninos, meninas, ricos, pobres, gordos, magros, populares, excluídos, qualquer um mesmo, desde que tenham a mesma idade de A – dezesseis anos.
   O começo me deixou bem desanimada, parecia ser mais um livro com aqueles romancinhos chatos, do tipo “nossa, uma garota, ela é diferente das outras, me apaixonei” à primeira vista. A entra no corpo de Justin, um garoto meio babaca que tem uma namorada chamada Rhiannon. Ela é uma menina doce, com um ar meio vulnerável, que aparenta ser super submissa ao namorado. O relacionamento dos dois não é nem um pouco saudável, ela sempre parece ter medo das reações do Justin, que parece se irritar com ela frequentemente, tratando-a mal e ignorando-a. A se sente conectado (a) a Rhiannon de certa forma, se sente mal por ela ter um namorado que sente tão pouco carinho por ela e, apesar de ter uma regra de não desviar muito do padrão de comportamento da pessoa que está “possuindo”, decide ser um Justin diferente por um dia.
   Os dois passam um dia maravilhoso juntos e, depois disso, A se encontra apaixonado (a) por ela.

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Fonte: Tumblr

   Foi justamente por isso que eu quase larguei o livro. O romance de cara parecia muito forçado, muito impossível (mais impossível que A trocar de corpo todo dia, para falar a verdade), aquela coisa que já vimos mil vezes e que nunca foi legal, para ser sincera.
  Ainda bem que eu continuei lendo.
  A medida que o livro avança, me peguei cada vez mais interessada sobre as vidas das pessoas que A usurpava. Adolescentes com todos os tipos de vida, com diferentes problemas e obstáculos a enfrentar. Um retrato mais fiel do que eu esperava sobre a diferença na vida desses jovens. E isso deu uma profundidade ao livro que o fez passar de tolerável a maravilhoso! A entra no corpo de uma garota com depressão e, sabendo que ela pretende se matar, enfrenta o dilema sobre procurar ajuda ou não, já que, de certa forma, revelar o segredo da garota é como uma traição a ela – e A sempre se preocupa em respeitar não só os corpos que invade, mas a vida das pessoas enquanto está no corpo delas. A partir desse momento, eu fiquei completamente fisgada. E terminei o livro em um dia.
   O romance com Rhiannon fica muito melhor e mais interessante graças à própria garota. Ao ouvir o segredo de A, ela não cai de amores por ele no mesmo segundo, finalmente encontrando a pessoa com quem teve um dia tão maravilhoso (que claramente não era seu namorado abusivo). Rhiannon é uma personagem tão real que eu a amo e odeio ao mesmo tempo. Ela hesita em acreditar, duvida, tem receios. Vai se aproximando de A bem aos pouquinhos e, mesmo ao finalmente se apaixonar, não é como se tudo fosse um mar de rosas. Rhiannon ainda se prende ao seu relacionamento com Justin, sem falar que, como muitas pessoas, ainda tem certos preconceitos e reservas que nem o amor que ela sente por A consegue ultrapassar. Como quando A entra no corpo de outras meninas, por exemplo, e Rhiannon se mantém mais distante, ou quando o corpo que A possui não corresponde aos padrões de beleza pelos quais se sente atraída. Depois do início forçado, a construção do romance deles se torna tão natural e tão crível que passou a me prender tanto quanto o dia a dia de A.
   Outra coisa que acho interessante sobre o livro é o fato de não sabermos se A é um menino ou uma menina, pois nem A sabe, já que migra de um corpo para outro desde sempre (e nunca volta ao mesmo corpo outra vez). O mais maravilhoso é o fato de A não se importar. Ao contrário de Rhiannon, A consegue enxergar as pessoas de uma maneira que vai além do gênero. A se sente confortável tanto no corpo de um homem quanto no de uma mulher, além de se sentir atraído por pessoas independente de gênero.

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Fonte: Tumblr


   Existe uma outra questão abordada no livro – o menino cujo corpo A possuiu que se “lembrou” dele e anunciou que tinha sido possuído por um demônio, o que causou uma pequena comoção –, mas, para mim, é algo que fica muito em segundo plano, um suspense básico para deixar a leitura ainda mais agradável. Porém, não é nada muito surpreendente.
   Assim como o final, que também não me surpreendeu. O que não quer dizer que não tenha sido bom. Eu gostei muito e fez bastante sentido não só com o rumo que a história estava tomando, mas com a vida que insana que A levava.
   Depois de ler Todo Dia, precisei morder minha língua. Talvez eu tivesse perdido a oportunidade de conhecer esse livro tão maravilhoso por puro preconceito literário – coisa que eu sempre jurei que não tinha! – e fico feliz por isso não ter acontecido.

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Fonte: Tumblr
⚮ 
 
Ficha Técnica:

  • Título original: Everyday 
  • Autor: David Levithan
  • Ano: 2012 / 2013 no Brasil
  • Páginas: 323
  • Editora: Galera Records (BR) / Ember 
  • Tradução: Ana Resende 
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  • Obs: Na versão em Inglês, as páginas são levemente amareladas.

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